A menina estava sentada em sua cama, olhando para fora, observando o que acontecia no jardim ao lado da casa, as borboletas, as flores...
Uma lágrima escorreu do olho esquerdo da pequena.
Delicada, fraca, deixada para trás, assim foi a vida inteira, Lucy virou os olhos para o pulso esquerdo, as marcas ainda fortes e sangrando, ela não devia ter feito isso, e se a Sra. McLean visse? Iria se decepcionar tanto com a querida Lucy, mas ela simplesmente não aguentava mais.
Ela descarregava tudo, tudo o que já tinha aguentado na vida, Lucy não era tão talentosa quanto Cassandra ou tão esperta quanto James, pelo menos assim ela pensava.
Também estava descarregando toda a vida, o que sofreu no orfanato até a bondosa Sra. McLean aparecer, a navalha ainda estava em sua mão direita, podia muito bem acabar com isso naquele instante, podia mas não o fez.
"E aqueles que se importam comigo? Eles não contam?" – a garota pensou, mais e mais lágrimas escorriam dos olhos, o choro foi se tornando cada vez mais evidente.
Lucy abriu um pequeno sorriso, bem pequeno, então jogou a navalha ensanguentada no chão, deixando uma marca de sangue naquele branco brilhoso.
Ela passou as mãos pelo rosto para se livrar das lágrimas.
– Ninguém pode superar tudo por mim, preciso ser mais forte... – ela disse, mas as lágrimas continuavam a cair –
Pare com isso Lucy... pare com isso...Continuava a dizer as palavras para si mesma inutilmente, ainda chorava alto, o que abafava os sons de seus gritos desesperados era o rádio, a música no último volume, não prestava muita atenção, mas ao perceber que música era, parou na hora.
"Made a wrong turn
Once or twice
Dug my way out
Blood and fire"
Lucy sabia a letra, cada palavra, cada pausa, cada vírgula...
"Bad decisions
That's alright
Welcome to my silly life"
Começou a cantar baixinho, os machucados no pulso já não mais sangravam como antes.
"Mistreated
Misplaced, missunderstood
Miss know it, it's all good
It didn't slow me down"
As palavras saíam automaticamente da sua boca, Lucy já abria um pequeno sorriso.
"Pretty pretty please
Don't you ever ever feel
Like you're less than fucking perfect
Pretty pretty please
If you ever ever feel
Like you're nothing
You're fucking perfect to me"
Então o show começara, ela ficou em pé na sua cama, cantava com animação.
"You're so mean
When you talk
About yourself
You're wrong"
Gesticulava, dançava, estava sendo ela mesma, sem suas inseguranças ou medos.
"Change the voices
In your head
Make them like you instead"
A música mexia cada vez mais com ela, que agora estava com os olhos radiantes.
"So complicated
Look how we are making
Filled with so much hatred
Such a tired game
It's enough
I've done all I can think of
I've chased down all my demons
I see you do the same"
Pegou o elefante de pelúcia da sua cama e o abraçou forte, como se nunca tivesse o abraçado antes, era assim, tinha ele desde criança, então o colocou no lugar, continuando a música.
"Pretty pretty please
Don't you ever ever feel
Like you're less than fucking perfect
Pretty pretty please
If you ever ever feel
Like you're nothing
You're fucking perfect to me"
O refrão veio novamente e Lucy continuava, cada vez mais forte.
"The whole world is scared
So I swallow the fear
The only thing I should be drinking
Is an ice cold beer
So cool in lying
And we tried tried tried
But we try too hard
It's a waste of my time
Done looking for the critics
Cause they're everywhere
They don't like my jeans
They don't get my hair
Stringe ourselves
And we do it all the time
Why do we do that? Why do I do that?
Why do I do that?"
Então Lucy olhou para seus cortes, já tinha alguns no pulso direito cicatrizando, o pulso esquerdo com os cortes recém feitos porém já sem sangrar,
"Por que eu faço isso?" era a pergunta.
"Pretty pretty please
Don't you ever ever feel
Like you're less than fucking perfect
Pretty pretty please
If you ever ever feel
Like you're nothing
You're fucking perfect to me
You're perfect
You're perfect
Pretty pretty please
Don't you ever ever feel
Like you're less than fucking perfect
Pretty pretty please
If you ever ever feel
Like you're nothing
You're fucking perfect to me"
Com o final, se sentou em sua cama, toda vez que ouvia essa música, algo bom despertava dentro de si, um desejo enorme de viver, um desejo que abandonava suas ideias de poucos minutos atrás, Lucy agora estava radiante, sabia que era perfeita, no fundo sabia, mas nunca conseguiu encontrar isso lá dentro, e ainda não foi dessa vez...